quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Primeira escolha moral - Capítulo III


CAPÍTULO TERCEIRO
Basta ter enumerado estes, pois todos os demais se regulam pelas normas destes: corrigidos estes, os demais serão emendados. Erradamente, porém, alguns Estoicos colocam entre os afetos também a serenidade da alma e a tranquilidade do coração, a mansidão e a segurança. Não são afetos, mas efeitos dos mais modestos e comuns afetos. Além do mais, os afetos universalmente têm seu nome derivado do ímpeto. O Oceano é perturbado por diversas ondas. Ora uma brisa agradável o encrespa suavemente; ora um sopro mais veemente o agita; ora uma tempestade cruel agita as ondas, o açoita com o Austral enfurecido; privando o Timoneiro da arte, do Navio e dos marinheiros; e aqui e ali, ferindo a madeira, finalmente, ou o afunda nos turbilhões, ou o empurra para que se parta ao meio nos rochedos. A alma muda, semelhantemente, de três maneiras: ou com amenidade, ou com maior rigor, ou com extrema violência. Aqueles movimentos que se acalmam, e se parecem com nascentes, são chamados afetos; na medida em que crescem, e ficam fortes, passam a se chamar paixões; quando atacam com impetuosidade e perturbam a razão, são chamados perturbações. Há outros afetos mais domésticos, e que podemos dizer que obtiveram uma espécie de jus de cidadania na vontade, que são conhecidos por sua frequência, familiaridade, proximidade e treino, que acabaram conquistando o nome de costume. Todos estão unidos e juntos: uns derivam dos outros, se sucedem alternadamente ao nascerem, são mutuamente pais e filhos de si mesmos, às vezes, chegam mesmo a ser também ao mesmo tempo destruidores de si mesmos, uns oprimem os outros. Uma onda, às vezes, é rompida por outra onda que vem; outras vezes, ela fica maior; da mesma forma é um afeto, que pode ser enfraquecido por outro afeto que vem, como é o caso da alegria que é diminuída pela dor, ou pode ser enfurecido, como é o caso das promessas de amor, ou como é o caso do desejo que se enfurece por meio do amor. Eles são os adornos da paz, a família da vontade, o principado do coração.

NIEREMBERGH, Giovani Eusebio. Dell'Arte per ben reggere la volontà, insegnata da Padre Gio: Eusebio Nierembergh della Compagnia di Giesu, Libri Sei, Trasportati dalla Latina nella Lingua Italiana. All'Illustrissimo e Reverendissimo Signore Monsignore Daniello Delfino, Vescovo di Filadelfia, & Eletto Patriarca d'Aquileia (Gabriello Baba, Trad.). Venezia: Nicolò Pezzana, 1669, pp. 374-375.

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