Obras do P.e Juan Eusébio Nieremberg, s.j.

Do ponto de vista de sua obra, podemos dizer, lançando um simples olhar para a quantidade, que Nieremberg foi um autor muito produtivo. Até o ano de sua morte, havia escrito e publicado 25 obras em latim (num total de pouco menos de 5000 folhas) e 5740 páginas em espanhol; traduziu vários textos clássicos de espiritualidade e de filosofia; há várias obras que lhe foram atribuídas no século XVII e que, hoje em dia, supõe-se que sejam, de fato, de sua autoria; outras tantas se perderam e só as conhecemos por referências de outros autores. Até finais do século XVIII, suas obras foram traduzidas para o alemão,  francês, inglês, italiano, árabe e polonês.
Enfim, a julgar por esse dado, é evidente a notoriedade de Nieremberg não só na Espanha, mas na Europa e na América. Porém, trata-se de uma notoriedade inconstante: muito lido nos séculos XVII e XVIII, em seguida é esquecido.
Mas, estamos interessados em buscar uma explicação sobre suas ideias: sua fundamentação e diálogos filosóficos, sua fidelidade aos ideais de Inácio de Loyola – fundador da Companhia de Jesus – e ao Magistério da Igreja, a inovação de seu pensamento e seu conservadorismo, seu humanismo e a influência do barroco. Enfim, queremos identificar alguns dos traços mais fundamentais de sua obra, que nos auxiliem no trabalho de compreensão do De Arte Voluntatis. Mais especificamente, queremos apresentar os primeiros resultados a que chegamos sobre a análise dessa que pode ser considerada a mais importante obra do escritor madrilenho (cf. Calvo, 2006), apontando, sobretudo, sua contribuição para pensar as relações entre psicologia e educação.
Avaliada pela variedade de temas, a obra de Nieremberg descreveria um homem, no mínimo, inquieto: textos de espiritualidade, tratados de filosofia moral, tratados de ascética, numerosas hagiografias, exegese bíblica, homilética, história natural, política, mariologia, catequese, ocultismo, onirocrítica (uma espécie de psicanálise avant la lettre) e até um estranho “monstruário”.
Se, por outro lado, verificarmos as referências utilizadas em suas obras, nos depararemos com um homem de grande erudição: é possível identificar, em seus textos, referências a mais de 300 obras diferentes, de 174 autores, escritas em sua maioria em latim; porém, não faltam obras em grego e em hebraico; cita 574 vezes, em suas obras, trechos de Santo Agostinho, evidenciando, assim, sua predileção teórica; além de inúmeras referências a outros autores da patrística, como São João Crisóstomo, São Bernardo, São Gregório Magno, Santo Ambrósio, São Basílio, Santo Anselmo, São Jerônimo, São Boaventura, São Clemente de Alexandria; não faltam também referências a Santo Tomás de Aquino e a clássicos da filosofia grega e latina, especialmente Sêneca, Platão, Aristóteles, Plotino, Cícero, Diógenes Laércio, Heródoto, Homero, Ovídio, Orígenes, Plutarco, transitando entre os platônicos, neoplatônicos, epicuristas e estoicos; cita também Hermes Trismegistos, Proclo e Macário; e não deixa de citar obras nascidas no âmbito da então centenária Companhia de Jesus – Inácio de Loyola e Francisco Suarez, por exemplo (Cf. Didier, 1976).
Não obstante essa variedade de temas e referências, sua produção intelectual está centrada sobretudo na discussão do “amor divino” e da “virtude”, ou seja, trata-se de uma obra principalmente mística e moral (Zepeda-Henriquez, 1957a). Mesmo aqueles tratados considerados “estritamente científicos” têm um caráter moralizador, como nos lembra Didier (1976):

De uma pura observação física, nosso escritor deriva uma sentença virtuosa, uma moral. Porque ele pensava, certamente, que por muitos meios podemos ajudar o próximo a se salvar. Cabe assinalar, portanto, o caráter sentencioso de seus escritos (p. XIX, tradução nossa).

Se tentássemos analisar seu estilo, nos depararíamos com um novo juízo sobre esse homem: de estilo bastante variado, Nieremberg foi evidentemente influenciado pela compositio loci inaciana e pelo barroco. Fato que se verifica no estilo descritivo de sua escrita; lento, mas nítido no desenvolvimento das ideias; conservador, mas crítico na exposição do pensamento. Segundo Didier (1976), Nieremberg

foi um autor que pensou livremente, sem se separar jamais da Igreja. Pensou livremente com a ajuda do pensamento de todos aqueles, santos ou sábios, que o precederam, e entre os quais sentiu-se livre de eleger a idéia que melhor lhe conviesse (p. 13, tradução nossa).

Bastante influenciado pela obra de Sêneca e pelo Estoicismo, não deixa de ser, porém, evidentemente neoplatônico. E esta sua característica, no entanto, não significa que Nieremberg deixou de dialogar com o aristotelismo-tomista da Companhia de Jesus e da Igreja Tridentina. Amante da verdade que era, Nieremberg poderia ter repetido a máxima latina: amicus Plato, sed magis amica veritas.
Se quiséssemos, finalmente, traçar um retrato de Nieremberg a partir dos lugares comuns presentes em sua obra, não erraríamos ao afirmar que se trata de um autor barroco: morte e vida, tempo e eternidade, temporal e espiritual, visível e invisível, escravidão e liberdade, vergonha, conhecimento de si, pecado, desengano, destino... são alguns dos topoi caros ao nosso autor.
Um último aspecto a considerar, antes de adentrarmos a obra em questão, é dizer que, apesar de Nieremberg ter encontrado sua pátria espiritual nas obras de Plotino e de Santo Agostinho, nem por isso deixa de ser menos jesuíta (que, como se sabe, eram assumidamente aristotélico-tomistas), como veremos. É bem verdade que não podemos estudar Nieremberg desvinculado do momento histórico-cultural que viveu, nem de sua filiação institucional, ou de seu tradicionalismo, no entanto, não podemos também deixar de insistir sobre sua originalidade, capaz de colocar em diálogo perspectiva de pensamento, de compreensão do dinamismo anímico, tão diversas e, às vezes, até contrárias.

Retirei a lista abaixo da Wikipedia e estou, porém, à procura de uma lista mais completa. Irei, ao longo dos dias, acrescentando outras referências, na medida em que for descobrindo não apenas textos originais, como também traduções. Uma lista bastante completa, porém, pode ser encontrada na obra de Didier (1976).

  • Obras y Días. Manual de Señores y Principes; en que se Propone con su Pureza y Rigor la Especulación y Ejecución Política, Económica y Particular de Todas las Virtudes (Madrid 1628).
  • Centuria de dictámenes prudentes (Quiñones/Madrid, 1641).
  • Prolusión a la doctrina e historia natural (Madrid, 1629).
  • Sigalion sive de sapientia mythica (Madrid, 1629; Lyon, 1642).
  • Curiosa Filosofía y cuestiones naturales (Imprenta del Reino/Madrid, 1630).
  • Vida del glorioso Patriarca San Ignacio de Loyola (Madrid, 1631).
  • De adoratione in spiritu et veritate (Amberes, 1631).
  • De arte voluntatis (Lyon, 1631).
  • De la afición y amor de Jesús (1630?; Madrid, 1632).
  • De la afición y amor de María... (1630?; Madrid, 1632).
  • Vida Divina y Camino Real de Grande Atajo para la Perfección (Madrid, 1633; 1633).
  • Oculta Filosofía (Barcelona, 1645).
  • Curiosa y oculta filosofia: primera y segunda parte de las marauillas de la naturaleza, examinadas en varias questiones naturales... Tercera impression añadida por el mismo autor (Alcalá, 1649).
  • Libro de la vida de Jesús crucificado, impreso en Jerusalén con su sangre (Barcelona, 1634).
  • Historia naturae, maxime peregrinae (Amberes, 1634).
  • Trophaea mariana seu de victrice misericordia Deiparae, gefolgt von De virginitate S.S. Dei Matris apologetica dissertatio (Amberes, 1638).
  • Del aprecio y estima de la gracia divina, que nos mereció el Hijo de Dios, con su Preciosa Sangre, y Pasión (Juan Sánchez/Madrid, 1638; Hospital Real y General/Zaragoza, 1640).
  • Compendio de la vida del V.P. Martin Gutiérrez (Madrid, 1639).
  • De la diferencia entre lo temporal y lo eterno, y Crisol de Desengaños (Madrid, 1640, 1654; Imprenta Real/Madrid, 1675).
  • Práctica del Catecismo romano y doctrina cristiana (Diego Díaz de la Carrera/Madrid 1640, 1641; Imp. María de Quiñones/Madrid, 1646).
  • Vida del dichoso y venerable Padre Marcelo Francisco Mastrilli (Madrid, 1640).
  • Flores espirituales en que se proponen varios puntos muy provechosos para las almas (Madrid, 1640).
  • Prodigio del amor divino y finezas de Dios con los hombres (Juan Sánchez/Madrid, 1641).
  • De la hermosura de Dios y su amabilidad por las Infinitas Perfecciones del Ser Divino (Juan Sánchez/Madrid, 1641).
  • Theopoliticus sive brevis illucidatio et rationale divinorum operum atque providentia humanorum (Amberes, 1641).
  • Causa y remedio de los males públicos (Francisco de Robles/Madrid, 1642).
  • Consuelo de las almas escrupulosas y su remedio (Madrid, 1642).
  • Dictámenes de espíritu (Puebla de Los Angeles, 1642).
  • Ideas de virtud en algunos claros varones de la Compañía de Jesús, para los Religiosos de Ella (María de Quiñones/Madrid, 1643).
  • Doctrinae asceticae sive spiritualium institutionum pandectae (Lyon, 1643).
  • Partida a la eternidad y preparación para la muerte (Madrid, 1643).
  • De la devoción y patrocinio de San Miguel (María de Quiñones, Madrid 1643).
  • Corona virtuosa y virtud coronada (Francisco Maroto/Madrid, 1643).
  • Firmamento religioso de lucidos astros en algunos claros varones de la Compañía de Jesús (Quiñones/Madrid, 1644).
  • Honor del gran patriarca S. Ignacio de Loyola, fundador de la Compañía de Jesús, en que se Propone su Vida, y la de su Discípulo el Apóstol de las Indias S. Francisco Xavier. Con la Milagrosa Historia del Admirable Padre Marcelo Mastrilli, y las Noticias de Gran Multitud de Hijos del Mismo P. Ignacio, Varones Clarísimos en Santidad, Doctrina, Trabajos, y Obras Maravillosas en Servicio de la Iglesia (Quiñones/Madrid, 1645).
  • Vida del Santo Padre Francisco de Borja (Madrid, 1644).
  • Partida a la eternidad y preparación a la muerte (Imprenta Real/Madrid, 1645).
  • Vidas ejemplares y venerables memorias de algunos claros varones de la Compañía de Jesús, de los Cuales es este Tomo Cuarto (Alonso de Paredes/Madrid, 1647).
  • De la constancia en la virtud y medios de perseverencia (Madrid, 1647).
  • Del nuevo misterio de la piedra imán y nueva descripción del globo terrestre (Madrid, 1643).
  • Epistolas del reverendo Padre Juan Eusebio Nieremberg, Religioso de la Compañía de Jesús. Publicadas por Manuel de Faria y Sousa, Caballero de la Orden de Cristo, y de la Casa Real (Alonso de Paredes/Madrid, 1649).
  • Devocionario del santísimo Sacramento (Madrid, 1649).
  • Cielo estrellado de María (Madrid, 1655).
  • Obras cristianas del Padre Juan Eusebio Nieremberg, Tomo I de sus obras en romance (Imprenta Real/Madrid, 1665).
  • Obras filosóficas del Padre Juan Eusebio Nieremberg, Tomo III (Imprenta Real/Madrid, 1664).
  • Obras cristianas (Lucas Martín de Hermosilla/Sevilla, 1686).
  • Vida de Santa Teresa de Jesús (Madrid, 1882).

Obs.: É interessante notar que Palau y Dulcet (1990) menciona o fato de Juan Eusebio Nieremberg haver escrito obras valendo-se do pseudônimo Padre Claudio Clemente. Trata-se de informação controversa, mas, em sendo verdadeira, devemos incluir à lista os títulos abaixo:

  • Tabla chronologica de las cosas eclesiásticas mas ilustres de España, desde el nacimiento de Jesu Christo hasta el año de M.DC.XLI.
  • Tabla chronologica de los descubrimientos, conquistas, fundaciones... del Mar Oceano, desde 1492, hasta el presente de 1642 (Madrid, 1642; reimpreso en 1643).
  • Tabla chronologica del Govierno Secular y Eclesiastico de las Indias Occidentales (Diego Díaz de la Carrera/Madrid, 1642).
  • Tablas chronologicas, en que se contienen los sucesos eclesiasticos y seculares de España, África, Indias Orientales y Occidentales (Madrid, 1643).
  • Musei sive bibliothecae tam privatae quam publicae extructio, instructio, cura, usus libri IV. Accessit accurata descriptio regiae bibliothecae S. Laurentii Escurialis (Escurial, 1635).
  • Machiavellismus Jugulatus (Alcalá, 1637).

Referência bibliográfica
Calvo, M.J.Z. (2006). Muerte, alma y desengaño: las obras latinas del padre Nieremberg. Revista de Humanidades: Tecnológico de Monterrey, 21, PP. 15-121.
Didier, H. (1976). Vida y pensamiento de Juan E. Nieremberg (M. N. Carnicer, Trad.). Madrid: Universidad Pontificia de Salamanca y Fundación Universitaria Española (Original de 1974).
Zepeda-Henriquez, E. (ed.) (1957a). Biblioteca de autores españoles desde la formación del lenguaje hasta nuestros dias (continuación). Tomo 103: Obras escogidas del R. P. Juan Eusebio Nieremberg I. Madrid: Ediciones Atlas.
Palau y Dulcet, A. (1990) Manual del librero hispano-americano (Vol. 2). Barcelona: Palau Dulcet.