terça-feira, 20 de abril de 2010

Segundo prelúdio - Capítulo VI

CAPÍTULO VI
Não há lugar mais apropriado para guardar e conservar este tesouro. Sem dúvida, só mesmo dentro do nosso coração haveria um espaço tão precioso. E, no entanto, todo mundo a procura como se fosse algo perdido. Reviramos céu e terra, atormentamo-nos, matamo-nos para encontrá-la. O que poderia ser capaz de reparar nossa perda? Não seria muito mais perigoso arruinar o próprio espírito do que o corpo? Enquanto trabalhamos para estabelecer nossa alegria, nós nos destruímos. Enquanto estamos em busca da felicidade, perdemos o que deve possui-la. Não acontece que procuremos algo que temos nas mãos e achar que perdemos algo que está cuidadosamente guardado? Nós temos uma aflição enorme por encontrá-la, e não saberíamos ter uma aflição mais desagradável e inútil. Nosso trabalho e nossa dor crescem tanto mais, quanto mais buscamos aquilo que não podemos perder jamais; quanto mais buscamos a felicidade onde ela não está, e onde é impossível encontrá-la – fora de nós –, tanto mais a perdemos dentro de nós. Nossa esperança é duvidosa e nossa aflição é certa. [...] Fazemos a alegria morrer em nosso coração, dissipamos este tesouro com nossas próprias mãos e, depois, vamos procurá-lo em outras plagas. Podemos guardar em nós a felicidade; sem dúvida, está em nosso poder conservar esta Divindade doméstica. Cada um é o autor e o Pai de sua alegria. Nós a temos em nós sem nenhuma dificuldade, e a procuramos em outros lugares com inquietudes e desgosto.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 56-58.

Nenhum comentário:

Postar um comentário