quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Primeira escolha moral - Capítulo VII


CAPÍTULO SÉTIMO
Mas, serão ordenados todos os afetos apenas na medida em que tu regulares aquele que a todos regula, e que torna o ímpeto dos outros justo, ou seja, o amor, que, em primeiro lugar, deve-se advertir que seja colocado sobre uma base digna de seus auspícios, imune a todos os choques da impetuosa e imóvel Fortuna. Esta base é Deus e a virtude. Uma vez, porém, escolhida a matéria para colocar como fundamento para o amor, é preciso que aí se estabeleça com constância, para que também firmemente fiquem os outros afetos. É muito importante eleger o Amor ou o Caso: já que, estando aquele defendido e seguro das agitações da Fortuna, os outros ficaram à salvo, como se fossem anexos, a saber, da sua imunidade. Se alguns se dobram, devem já ter sido reformados pela sua regra de caridade. Adivinha-se, com isso, o uso que eles fazem do amor, e como cada um deles é regulado pela norma do amor. Por acaso, Deus é eleito pelo teu amor e virtude? Tu te serves dos afetos convenientes para esta eleição? Será que estás fora de juízo? Alguém te ofende com injúrias: o que não mais prevalecia, que mais querias, que menos deverias ter sido? Examina a que afeto tu deves aderir que seja mais conforme à intenção, qual convenha mais ao amor: o triste, ou o corajoso e alegre? Quem sabe a ira? Talvez a tristeza? Erras, se não erraste amando. Se amas a Deus, o bem está seguro: aquilo que amas não será arrancado por ninguém, não será levado por ninguém. Com esta dor, que mal evitas? E contra qual queres impor o desdenho? Ou tu não amas a virtude, ou deves afastar de ti a tristeza: estes afetos, certamente, não conveem ao amor. Considera atentamente e busca um afeto que seja conveniente, e que se adeque ao teu amor. Eu acredito que será o contrário daqueles que foram acenados antes. Para quem ama a Deus, as injúrias não são palavras de opróbrio, mas de doutrina: são treinos para a vida, são preceitos de virtude. O homem mau e o teu rival são, para ti, Mestres de probidade: não acontece que se considere a pessoa que declara os ensinamentos, mas quais são as admoestações. Se suportardes aquelas com paciência de homem, elas te levarão a Deus. Se tu as sofrerdes, elas te erguerão. Tu já gozas da mesma virtude que amaste. A paciência é virtude: e não há paciência sem padecimento. Por isso, o bem que amaste está presente, e a sua presença quer que toda dor seja banida, e quer ser arrastado pela alegria. Por isso, tu te deves alegrar quanto ao teu amor. A injúria exige do amante da virtude este afeto feliz, não os outros afetos que deixam o homem triste e infeliz, da mesma maneira que o avaro não encontra sofrimento quando acha um tesouro. Sofres algo de doloroso e de grave quanto ao cargo que exerces? Anima-te: pensa no afeto de que seja oportuno se valer, naquela contingência, para o teu amor, recolhe este afeto e valha-te dele. Quem sabe o temor? Engana-te. Não há ameaça alguma da Fortuna que te colocará em risco de perder a Deus; não há violência que seja capaz de arrancar de ti a virtude, se tu não quiseres. Talvez a esperança? Quem sabe a virtude já esteja te admitindo em meio à sua família, já tens a marca dos bons, já te matriculaste como aluno dos melhores. A virtude sem a paciência é órfã, fraca, ou melhor, é nada, é como se fosse o catálogo dos honestos escrito com muito trabalho. Entre os amantes não haverá nenhum verdadeiramente feliz se estiver distante do objeto amado, se o objeto amado, com alguma entrega de si mesmo, não o favorecer, ou se não lhe chegar com graciosidade e semblante grato, ou o fascine com alguma esperança de si mesmo. O sofrer com a virtude e pela virtude é uma espécie de promessa do amor divino, uma espécie de favor e de inclinação do Céu, uma espécie de sorriso divino: vamos, deixa a tua confiança crescer, pois tudo há de ficar bem. Teu rival tirou tuas faculdades? Foram roubadas pelo ladrão? Nem mesmo isto solicita o indigno afeto do ódio; pois nenhum deles te roubou Deus; Ele continua sendo teu e em todos os lugares. Nada te é retirado, mas estás oprimido pelos encargos. Muito te restou, se a virtude não te foi levada embora. É assim. Tu encontraste aquele único bem que não é desejado pelos assaltantes, não invejado, não enfraquecido. Tu gozas por ter amado um bem livre dos males, a quem nem mesmo os malvados conseguem ofender, a quem os invejosos são benignos, todos perdoam. Da mesma maneira, sirvamo-nos de afetos que são consequências do amor, pois eles servem ao seu Senhor, de modo que o nosso coração se endireitará com resultado dos votos, para que não haja nada de áspero e desigual.

NIEREMBERGH, Giovani Eusebio. Dell'Arte per ben reggere la volontà, insegnata da Padre Gio: Eusebio Nierembergh della Compagnia di Giesu, Libri Sei, Trasportati dalla Latina nella Lingua Italiana. All'Illustrissimo e Reverendissimo Signore Monsignore Daniello Delfino, Vescovo di Filadelfia, & Eletto Patriarca d'Aquileia (Gabriello Baba, Trad.). Venezia: Nicolò Pezzana, 1669, pp. 378-381.

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