quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sexto meio - Capítulo III

CAPÍTULO III
Por que tardamos tanto em dizer isso em alto e bom som? Trata-se, aqui, de adquirir a maior glória que os homens puderam ambicionar ou pretender, e merecer mais justamente o triunfo do que Alexandre e César. Não se trata de vencer, como eles, nações poderosas; mas, mais dignamente, trata-se de vencer a si mesmo, domar um inimigo mais poderoso e mais pertinaz do que esses dois jamais tiveram. Eis aqui, sem dúvida, a mais importante e mais nobre de toda as façanhas: ser absolutamente mestre de suas vontades é ser mais do que Monarca da Terra universal. E, para não mentir em nada, por maior que tenha sido a glória desses Conquistadores, por terem subjugado povos, é preciso uma glória ainda maior por ter subjugado a si mesmo e ter chegado a reinar soberanamente sobre suas paixões. É no império que se tem sobre elas que consiste a verdadeira grandeza; e é somente através disso que se adquire legitimamente esses magníficos títulos de Vitorioso e Augusto. Quantos homens vulgares se viu tomando cidades poderosas e ganhando memoráveis Vitórias? E, ao contrário, quantos homens houve que, após suas conquistas e quando sua dominação parecia ter como limites apenas os limites do mundo, se renderam como escravos de suas paixões? Qual vantagem poderiam pretender esses homens sobre aqueles que eles venceram se, como eles, foram obrigados a reconhecer um vitorioso, e se sua ambição triunfou sobre eles exatamente no momento em que eles triunfavam sobre os outros? Certamente que, assim como o espírito tem um preço inestimável comparado ao preço do corpo, a glória é incomparavelmente maior do que nós mesmos e os outros; e não seria possível encontrar um mais eminente ato de valor do que esse. Vencendo nosso espírito, conquistamos aquele que vence todas as coisas e cuja grandeza é tal que não é bravura nenhuma nomeá-lo mestre da Terra e do Céu. Mas, uma vantagem tão rara não é fruto de um trabalho medíocre. Trata-se de um bem que só pode ser colhido com muita pena. Escutemos a razão que um Padre da Igreja deu a este respeito: Quando um homem combate contra outro, ele está inteiro nisso – combate com o corpo e com o espírito; mas quando ele combate a si mesmo, ele está pela metade; e aquele que ataca é infinitamente mais frágil do que aquele que resiste [No original latino, além de citar Salomão logo no início do capítulo, Nieremberg afirma, nesse ponto: "Ad haec, ut Urbanus sui nominis quartus, Maximus Pontifex, eleganter dixit: Cum quis contra populus, vel urbes decertat, totus simul interior, & exterior homo pugnat: at, dum contra se, non totus, sed minor quam dimidius dimicat". Trata-se, portanto, do Papa Urbano IV (c. 1195 - 1264), que foi o 182o Papa da Igreja Católica, a partir de 1261 até o ano de sua morte; ndt]. É preciso, portanto, prestar bastante atenção para não atacar temerariamente um adversário tão poderoso; e visto que ele é tão difícil de vencer, não podemos nos permitir pensar que seremos capazes de conseguir sem um esforço extraordinário.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 339-341.

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