sábado, 13 de novembro de 2010

Oitavo meio - Capítulo IX

CAPÍTULO IX
No entanto, nem a inteligência, nem a habilidade, nem a força, nem as outras condições necessárias no exercício das Artes são capazes de nos fazer chegar a bom termo na obra que vimos meditando, se nisso não tivermos alegria e se a Fortuna não contribuir para que se efetive essa obra. Sem dúvida, nos é necessário, para isso, algo que ultrapasse nosso espírito e nossa suficiência. Um Gênio mais forte do que o nosso, que nos assiste poderosamente, e nos conduz pelas sendas que levam àquela obra pela mão. Será que somos tão injustos a ponto de querer tornar a Fortuna superior à Virtude? Será que perverteremos de tal forma a ordem a ponto de tornar a senhora dependente e sujeita à serva? Não é esse nosso pensamento. Não estamos falando da Fortuna, esta cega, esta inconstante, que é adorada no mundo; que causa tanta desordem entre os homens, que distribui os bens sem julgamento e sem escolha, que persegue os bons e parece ter assumido para si o cuidado dos malvados. Estamos falando do favor do Céu, que é sempre presente para aqueles que o imploram e que por ele esperam; que se comunica a nós sem a ajuda de nossos conselhos e de nossas deliberações; que chega ordinariamente àqueles que mais desconfiam de suas forças e menos presumem de sua Sabedoria. Estamos falando da Graça, sem a qual todos os nossos cuidados e nossos sofrimentos seriam inúteis. É isso a que chamamos Fortuna, mas a Fortuna inocente da alma, que assiste aos bons desejos e às santas intenções; que é a causa de todos os nossos bons sucessos; que parece ser obrigada a nós e nos deu a fé de nunca nos abandonar e sempre nos resgatar o mais prontamente possível. Sem ela, a força, a indústria e tudo aquilo que tem Virtudes, são frágeis e sem força. São como vãos fantasmas que não têm nem vigor nem vida; e podemos dizer que elas sequer existiriam. Certamente, como todas as coisas vêm de Deus, não há bem algum que não venha de sua operação; não há nada que seja tão pequeno que não proceda inteiramente dele, que não seja um ramo dessa videira, um riacho dessa fonte.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 370-371.

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