sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sétimo meio - Capítulo II

CAPÍTULO II
Não saberíamos, pelo menos razoavelmente, negar o fato de que ela [a Fortuna; ndt] deve muito à Diligência e que dela recebe tão notáveis vantagens. Sem dúvida, ela lhe oferece reverência e dignidade. Por ser cega e sem consideração, ela parece esclarecida e judiciosa; ela, na opinião dos homens, lhe oferece luz e condução. Enfim, pela comunicação que ela tem com a Diligência, parece que aquilo que ela faz de forma imprudente e caprichosa é feito, na verdade, com conselho e deliberadamente. Aquilo que podemos mais dizer sobre ela e que, ordinariamente, é matéria de nossas lamentações, é que ela não está absolutamente a nossa disposição e que nós não somos seus mestres. Esse defeito é inteiramente reparado pela Diligência; ela a submete a seu poder; ela a faz depender absolutamente de nossas vontades; ela como que a coloca em nossas mãos. É a ela que pertence, verdadeiramente, esse magnífico título de Rainha de todas as coisas, e seu império é tal que não somente todas as coisas dependem dela, como também a própria Fortuna. Como pensamos que Datames, o famoso Capitão da Pérsia [Datames (? - 362 a.C.) foi um general e sátrapa da Capadócia entre 385 a.C. e o ano de sua morte; ndt] e, mais recentemente, o grande Condestável de Lesdiguières [o livro Histoire de la vie du connestable de Lesdiguières, escrito em 1638, é uma das obras de história escritas por Louis Videl, tradutor da presente obra de Nieremberg para o francês (cf. Chartier, 2004, p. 98). É interessante notar que a referência a este personagem, obviamente, não consta no original latino. Seja como for, trata-se de François de Bonne (1543-1626), militar durante as chamadas Guerras de Religião Francesas, Senhor e Duque de Lesdiguières, Senhor do Glaizil, Marechal da França e último Condestável da França, durante o Antigo Regime, entre os anos de 1622 e 1626. O Museu do Louvre tem um de seus pavilhões dedicado a ele; ndt], conservou por tanto tempo aquela prosperidade maravilhosa que o acompanhou em todas as suas façanhas e o fazia, em todos os lugares, triunfar sobre seus inimigos por mais fortes que eles fossem? Ele a conservou através do mesmo meio que ele havia usado para adquiri-la: por uma diligência admirável, com a qual, tendo se tornado mestre da Fortuna, foi-lhe, em seguida, muito mais fácil conseguir vantagens que dependessem dela, que ele fazia com que dependesse soberanamente dele, que ele havia submetido a seu poder; isso é que lhe permitiu os bons sucessos que obteve e o colocou em posse da Vitória. Ele não reconheceu nenhuma outra fortuna diferente da Diligência; ele experimentou que é ela quem torna, verdadeiramente, os homens felizes. É estar no mais alto grau de dignidade, estar por si mesmo! É muito mais vantajoso fazer a alegria do que encontrá-la.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 345-347.

Referência bibliográfica:
CHARTIER, Roger. Leituras e leitores na França do Antigo Regime. São Paulo: Ed. UNESP, 2004, p. 98.

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