sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sétimo meio - Capítulo I

A ARTE
DE CONDUZIR
A VONTADE

LIVRO SEGUNDO
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MEIOS infalíveis para adquirir a felicidade.
SÉTIMO MEIO
PELA prática da Diligência

CAPÍTULO PRIMEIRO
Além do que foi dito, a indústria e a força não são suficientes para a prática das Artes; elas demandam também diligência e cuidado; estando certo de que sem isso, todo o resto perde muito de seu preço, a força se encontra enfraquecida e fragilizada; e a indústria, ociosa e quase inútil. Ora, eu vos pergunto, pode haver algo no que a diligência é mais necessária do que naquilo que regra nossas ações e forma a conduta geral de nossa vida? A que devemos um maior cuidado do que àquilo que nos isenta e nos defende contra todo tipo de cuidados e, pelo bem que podemos negligenciar, mantém em segurança todo o resto? No entanto, é nisso que somos ordinariamente mais lentos e preguiçosos; adiamos continuamente aquilo que não causa nenhum sofrimento; nunca fazemos aquilo que nos propomos fazer, aquilo que incessantemente meditamos fazer. Sem dúvida, é desculpa e defesa honesta deixar algo para o dia seguinte. Mas, quando nossa razão nos solicita a abraçar um bem, nunca a recusamos claramente, e não lhe dizemos abertamente que não queremos fazer nada. Nós a enganamos de forma civilizada com esperanças e remissões; oferecemos-lhe boas palavras e prometemos sempre aquilo que nunca fazemos e que, talvez, não temos nenhuma pretensão de fazer; há tempos suficiente para isso, nós dizemos, vamos fazer amanhã, daqui a um tempo voltaremos a pensar a respeito. Assim, empurrando de um dia para o outro o estudo e a prática da Virtude, empurramos para adiante também a nossa felicidade; apodrecemos no vício e permanecemos eternamente na miséria. Somos engenhosos quando o que está em jogo é iludir as promessas que fizemos a nós mesmos; e curiosamente buscamos tudo aquilo que nos livrar dessas mesmas promessas. Queremos que a Fortuna seja culpada de nossa apatia, e jogamos, ordinariamente, sobre ela a culpa pelos nossos atrasos e nossa preguiça. No entanto, estamos seguros de que não somente ela não é em nada a causa disso, como também ela é inimiga disso; visto que ela ama a ação e o sofrimento, e visto que a diligência lhe agrada a tal ponto que é apenas muito raramente que se vê que ela [a diligência; ndt] é seguida de infelicidade. Com efeito, ela é a mãe dos bons sucessos e, para bem dizer, ela é uma outra Fortuna; eu digo outra por conta de uma preeminência e não por conta de uma inferioridade, por conta do fato que, dependendo puramente de nós, como ela faz, e sendo obra de nossas mãos, ela tem sobre a outra a vantagem da firmeza; ela é tão melhor que, sem dúvida, é mais segura. Com isso, ela é mais pronta e, por mais que a Fortuna seja a coisa mais inesperada que possa existir, a diligência a ultrapassa ainda naquilo que ela [a Fortuna; ndt] nos faz de bem, visto que ela [a diligência; ndt] nos faz o bem muito mais frequentemente [do que a Fortuna; ndt]. Também por essa razão, ela pode ser muito justamente chamada uma prosperidade que está em nossas mãos; um fruto que vem antes da estação; uma boa sorte antecipada. Certamente que se nós pensarmos seriamente a este respeito – dos bens que ela produz –, não nos enganaremos de forma alguma em dizer que não há nenhuma outra Fortuna além da Diligência, e que se for necessário admitir uma segunda, ela não será legítima, ela só terá o nome.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 343-345.

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