domingo, 7 de novembro de 2010

Oitavo meio - Capítulo I

A ARTE
DE CONDUZIR
A VONTADE

LIVRO SEGUNDO
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MEIOS infalíveis para adquirir a felicidade.
OITAVO MEIO
QUE é preciso sofrer continuamente pelo bem

CAPÍTULO PRIMEIRO
Mas, após o cuidado que devemos ter para o estabelecimento de nossa Felicidade, é preciso que nos dediquemos no sentido de torná-la firme; pois não é próprio de um artesão hábil fazer obras frágeis e mal acabadas, mas fazê-las sólidas e duráveis. Verdadeiramente, está nisso a consideração que temos por eles e que suas obras têm preço. O vidro seria muito mais rico e procurado do que o ouro se, junto com a graça que ele tem no brilhar, ele não tivesse a imperfeição de se quebrar tão facilmente; a antiquidade das coisas, muitas vezes, lhes confere mérito, e aquilo que há de mais raro nos monumentos que admiramos, que são as mais nobres produções da arte, os maiores e mais definitivos esforços da magnificência dos Monarcas, é a vantagem de ter chegado inteiros até aos nossos dias e de terem podido se garantir das injúrias do tempo. A obra que empreendemos terá essa firmeza, será de eterna duração, desde que lhe concedamos por fundamento o amor e a prática da Virtude. É certo que a perfeição e a segurança de nossa alegria consiste no fazê-la bem: mas é preciso fazê-la incessantemente; e não se trata de ocupar uma hora ou um dia, este deve ser um exercício contínuo que se estende a todos os dias de nossa vida. Em todas as outras Artes, o Operário começa e se retira tão logo lhe pareça bom. Mas, na Arte de fazer o bem, é preciso sempre começar, não se distrair de forma alguma e nunca acabar. Este labor quer ser conduzido como se fosse uma só atividade e como se estivesse mantido por um único fio; ele não tem pausa; não se pode tirar as mãos da obra; e, mais verdadeiramente do que aquele pintor que não quis nunca passar um só dia sem traçar pelo menos uma linha, é preciso nunca deixar passar um momento sequer sem fazer ou sem meditar um boa ação. A prática da Virtude demanda continuidade; dividi-la, certamente, será como perdê-la, será como sofrer no sentido de mantê-la inutilmente, fazer isso com intervalos. A Vontade constante é todo o mistério da sabedoria; ela fica firme em seus desejos e seu verdadeiro caráter é a unidade. O vício, pelo contrário, é vacilante e vário, é inconstante e variável, se dissipa e se perde; e será nossa maior tristeza se nos perdermos com ele, se não nos desfizermos dele, mas apenas substituir, passar de um para outro; pois, dessa forma, certamente, não o estaremos abandonando nem por conhecimento nem por razão, mas apenas por cansaço e tédio.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 352-354.

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