domingo, 7 de novembro de 2010

Sétimo meio - Capítulo V

CAPÍTULO V
Concluamos esta pintura com um novo traço que a tornará mais clara e a erguerá ainda mais alto. Pode haver animal que a Natureza tenha tido mais cuidado e estudo para formar do que o Pavão? E, pelo contrário, pode haver animal que ela tenha descuidado mais do que com a Abelha? Não somente ela não lhe deu ornamento algum – assim como fez com o outro –, como também ela lhe foi avara na matéria e agiu tão negligentemente em relação a ela que se pode mesmo dizer que ela foi feita pela metade – ela nem se dignou conclui-la. Peço-vos uma coisa: imaginem que ambos não existissem. Qual é a importância do primeiro? Ele nos faria falta? E se o outro dos animais [a abelha; ndt] fosse banida da criação, pensem no prejuízo que teríamos. Perderíamos, perdendo-a, a utilidade singular que nos traz o uso do mel que é, ao mesmo tempo, agradável e salutar. A Arte que tem como objeto reparar as ruínas da saúde seria prejudicada em suas ações; e além da quantidade de outros excelentes efeitos dos quais seríamos privados se ela não existisse, faltar-nos-ia o meio que ela nos oferece para iluminar os templos e manter a luz que a piedade consagra à honra dos Altares. Negligenciada e infeliz na aparência, como a formiga, e companheira de sua desgraça, ela é a rival de sua virtude, e partilha com ela a glória de reparar, por sua diligência, os defeitos de sua condição. Ela foi feito, dessa forma, muito mais nobremente, sem dúvida, e mais preciosa do que aquele magnífico e pomposo pássaro cuja plumagem é que lhe confere preço e que é apenas uma forma de diversão para nossos olhos e que não tem nenhuma outra utilidade que essa. Temos, certamente, nesses dois pequenos animais [na formiga e na abelha; ndt], uma excelente intrução para a vida; e a Natureza no-los propõe como um raro modelo ao qual devemos nos conformar. Ainda que os santos Livros se refiram apenas à primeira e não mencionem nunca a outra, o seu exemplo é muito digno [o da abelha; ndt]. E merece não somente ter um lugar nestas páginas, mas de estar sempre presente à nossa memória e estar profundamente gravado dentro de nosso coração.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 350-352.

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