terça-feira, 20 de abril de 2010

Segundo prelúdio - Capítulo IX

CAPÍTULO IX
Se alguém nos vem dizer que se nos estão sendo preparadas honras, que uma boa fortuna nos espera, que uma grande sucessão nos está chegando, nós o escutaremos com prazer; e mesmo que, de fato, ele nos impusesse esta notícia ou que ela fosse falsa, ela nos seria muito agradável. Não temos dúvida portanto de que as coisas não fazem nossa alegria, não nos é necessário apontar nenhuma outra justificativa que comprove como ela não vem delas, visto que todas essas honras, todas essas vantagens não serão reais e que só subsistirão apenas em nossa opinião. Se esta mentira nos desse contentamento, por que nossa razão não causaria o mesmo efeito? [aqui, Nieremberg, opõe razão à opinião; ndt] Por que a verdade não teria tanto crédito e autoridade sobre nós como a que damos a uma coisa imaginária e vã? Façamos, pois, aqui, por resolução e por sabedoria, aquilo que faríamos por fraqueza e imprudência. Aqueles que abusaram desta sorte e que se entretiveram dessas visões agradáveis, alegrem-se com ainda maior facilidade, abandonando todo seu crédito à impostura que faz sua alegria. Persuadimo-nos, sem dificuldade, daquilo que recebemos; não hesitamos em nada; o assumimos, de início, como constante; e só quisemos como caução a vantagem que nos foi prometida. Ser-nos-á, portanto, muito fácil conceber a alegria, as seguranças que nos dão, de que possuímos todos estes bens, possuindo aquilo que vale mais do que todos eles juntos, possuindo o meio infalível de produzir a felicidade; e esta alegria será tão mais justa que a causa dela é real e certa. Mas, quando ela não for mais, a notável vantagem que tivemos em acreditá-la como tal será, seguramente, bem digna de que não duvidemos em nada; é bem merecido que acrescentemos fé inteiramente.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 62-64.

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