quinta-feira, 15 de abril de 2010

Primeiro prelúdio - Capítulo XIII

CAPÍTULO XIII
A Vontade bem regrada é a soberana causa de todos estes efeitos [refere-se aos efeitos elencados no final do capítulo XII; ndt]. Há grandes máquinas que são postas em movimento com um pequeno instrumento, e aquelas que venceram a força cedem muito facilmente à indústria. A Vontade é capaz também de elevar e de governar a massa inteira de nossa felicidade, de destruir a grandeza de nossa miséria e de fazer parar os movimentos inconstantes da Fortuna, o que não poderia ser possível sem um milagre. Para adquirir inteligência nas artes, é preciso atenção e estudo. Por que não trazer ao conhecimento o mais importante e o mais necessário de todos? Seríamos nós insensíveis à excelência do bem que ele produz? Não nos despertaria ele de nossa languidez e nossa preguiça? Certamente não recolheríamos uma vantagem menor do que conquistar uma inteira vitória sobre elas. Está aqui a ruína, e por assim dizer, a morte de nossa miséria. Não é verdade que inventaríamos qualquer coisa que aliviasse por algum tempo que fosse o rigor de nossos problemas, que enganasse um pouco a nossa tristeza, e que suspendesse em nós, de alguma maneira, o sentimento de sua amargura? Mas, para nos afastarmos totalmente disso basta-nos apenas a nossa vontade. Esperar dos divertimentos ordinários, que os homens buscam para se desfazer de seu mau humor e dissipar sua melancolia; esperar das conversações, dos jogos, dos espetáculos, da música, um efeito tão grande como esse; é falho, porque, sem dúvida, eles são muito fracos para isso. Eles até conseguem impedir um pouco algum tipo de violência do mal, mas eles não conseguem afastar o mal inteiro. Podemos mesmo dizer que essas coisas são muito mais obstáculos do que remédios contra os efeitos da miséria, eles não seriam capazes de resistir à impetuosidade de nossas paixões. E estes furiosos Tiranos que nasceram e cresceram conosco não se rendem a tão suaves artifícios, mas, pelo contrário, eles são capazes de torná-los inúteis e vãos. Nossa tristeza os ultrapassa; seu azedume muda e corrompe todas as doçuras com as quais nós os tentamos encantar. Se nos separamos por um momento que seja dele, e se ele nos dá um pouco de descanso, ele retorna depois com muito mais força sobre nós: uma pessoa com febre, seguramente, encontra algum alívio ao beber um pouco de água, mas ao invés de apagar o ardor que o queima, a água o reacende com mais força; é como lançar uma chama sobre uma brasa. Triunfar sobre a Fortuna não é uma glória que o entendimento deve se atribuir totalmente. A Vontade bem ordenada tem a melhor parte. Tudo o que buscamos fora disso, para opor à nossa miséria, é igualmente inútil. Temos dentro de nós o verdadeiro remédio, que é tão soberano que opera nossa inteira cura; este remédio é a saúde mesma.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 35-36

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