segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

IV Tópico sobre o uso da opinião - Capítulo I

A ARTE
DE CONDUZIR
A VONTADE

LIVRO TERCEIRO
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TÓPICO PRECEITUAL SOBRE O USO DA OPINIÃO
QUARTO LUGAR
DA comparação dos tempos

CAPÍTULO PRIMEIRO
Encontraremos ainda muito alívio no levar nosso espírito para além do acontecimento das coisas; imaginando o estado onde estaríamos quando elas não existirem mais; e o que nos acontecerá quando elas tiverem passado. Como aquele que encontra um atoleiro no meio de seu caminho, o cruza com um salto para não se sujar; nós também cruzaremos com o pensamento aquilo que suja a pureza de nossa alma – as delícias e as volúpias – e refletiremos em seguida que, após a sua extinção, quando nossos ardores forem apagados, quando a violência de nossas paixões relaxarem, só nos restará, em meio a tantas satisfações que nos haviam proposto, desgosto e arrependimento. Não tendo encontrado o sólido contentamento que nos haviam prometido, não as desejaremos mais; nós as consideraremos, se não com desprezo, pelo menos com indiferença e frieza. Não seremos tocados por elas e, se não tivermos horror a elas, pelo menos não as desejaremos. Nesse meio tempo, a Razão nos dirá que, quando elas tiverem passado, não restará mais àqueles que se satisfizeram do que àqueles que se abstiveram, que estes e aqueles, nisso, são iguais; e que é um engano acreditar que os primeiros sejam mais satisfeitos e felizes que os outros. Pelo contrário, é certo que, por causa do remorso que elas deixam, eles estão em pior condição; e se há desvantagem, ela é menor do lado daqueles que não as conheceram, do que daqueles que as possuíram. Quantos problemas têm aqueles, enquanto estes saboreiam um repouso grande! A alegria destes é verdadeira e tranquila; e a daqueles, se eles a têm em alguma medida, é inquieta e falsa. Para bem dizer, eles são menos felizes e menos satisfeitos, por mais que o pareçam ser muito.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 460-462.

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