quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Quarto preceito - Capítulo II

CAPÍTULO II
Assim, portanto, qualquer um que ame a paz e deseje adquirir o repouso, qualquer um que pretenda a felicidade, cuja rara vantagem é ser imutável e eterna, deve amar constantemente a Verdade, que é a base e o fundamento imóvel da felicidade. Nós aprendemos que ela se encontra na Razão, como sua fonte; na Razão purificada dos erros e, por assim dizer, do lixo e dos resíduos da Opinião. Esta Razão é a nobre e preciosa matéria de que é feita a Justiça e todas as outras Virtudes. Ela as produz e as mantém; ela é a sua Mãe e Nutridora. É um fogo divino que nos esclarece e que, conservando-se pura dentro de nós, é um penhor de nossa alegria muito mais nobre e certo do que, para os Romanos, era certa a duração de seu Império, aquele fogo sagrado que as Virgens guardavam com tanto cuidado . É preciso, por isso, buscar sem cessar a Verdade; tirá-la das coisas à força; abraçá-la, por assim dizer; adquiri-la, em seguida, de tal maneira que ela se torne um de nossos mais poderosos hábitos; que ela brilhe até nos nossos mínimos discursos; que ela os faça ser constantes e indubitáveis; e que ela dê também a nossos pensamentos a Veneração das coisas divinas. Disso, tiraremos a rara vantagem de que nossas palavras ordinárias terão a força e o peso dos juramentos; de que nossos conselhos serão escutados com o respeito que se tem aos Oráculos; de que nossos movimentos serão recebidos como se viessem do Céu. Mas, se acontece de sermos negligentes na prática de um tão grande bem, não o faremos impunemente, pois atrairemos para nós uma infinidade de males; sendo certo que a ciência que é sem ação, e que podemos dizer que é ociosa e morta, vale muito menos que a ignorância mesma. É por causa deste defeito que os Antigos Sábios infelizmente caíram na depravação notada pelo grande Apóstolo [trata-se de São Paulo; ndt]. Ele disse: é por não ter colocado em ação seus conhecimentos que eles foram abandonados às paixões da ignomínia e a seus sentidos reprovados. É por isso que, não apenas não fazendo o bem, eles começaram a fazer também o mal; e se encheram de iniquidade, de impureza, de avareza, de ociosidade; eles se tornaram operários da inveja e das calúnias; ficaram cheios de inveja, de homicídio, de engano, de fraude; eles eram caluniadores, orgulhosos, cheio de ódio a Deus, injuriosos contra o próximo, desobedientes de seus pais, sem amizade, sem franqueza, sem misericórdia. Consideremos, eu vos peço, em que abismo de males eles precipitaram, quando tornaram inúteis, por sua negligência, as luzes da Verdade que, para eles, se tornaram fracas e sombrias, de forma que toda verdade que pretendiam tirar do saber mais sublime seria incapaz de esclarecer verdadeiramente e seria incapaz de encher o espírito, senão de trevas e de confusão.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 475-477.

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