A ARTE
DE CONDUZIR
A VONTADE
LIVRO TERCEIRO
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TÓPICO PRECEITUAL SOBRE O USO DA OPINIÃO
SEXTO LUGAR
DA razão da providência
CAPÍTULO PRIMEIRO
Quanto ao mais, se os Sábios do Paganismo – que só tinham as luzes naturais e não eram iluminados do alto como nós o somos [no original latino, Nieremberg escreve: "Caeterum in plurimis, fatorum consideratio Demetrium impulit, pluresque antiquorum ad malorum opinionem ponendam, aut portandam; scilicet, necessitatis lex coegit ad patietiam"; o que poderia ser traduzido assim: "além do mais, em muitíssimas coisas, a consideração dos fatos estimulou Demétrio e muitos outros antigos a deporem as opiniões sobre os males ou carregá-las consigo; ou seja, a força da necessidade os coagiu à paciência". Ao que tudo indica, trata-se do mesmo Demétrio I, da Macedônia (337 a.C. - 283 a.C.), citado anteriormente; ndt] – descobriram que era um grande alívio para seus males pensar que eles os deviam necessariamente sofrer; se eles tomaram a resolução pela paciência, a partir da consideração da ordem imutável do destino; que vantagem teremos nós e que meio maior do que esse para acalmar nossas penas e problemas? Sabendo, como sabemos, que não é puramente por necessidade que os sofremos, mas porque agrada a Deus, cuja única vontade nos determina àquilo que melhor que parecer, nos governa soberanamente e realiza todo o nosso destino. O que poderia haver de desagradável naquilo que vem dele? Que acidez ou amargura poderíamos temer encontrar nessa bebida que ele nos apresenta? Sejamos sérios: não é o destino que nos força e que nos leva, mas é Deus que nos atrai e nos conduz. Se queremos saber para onde [Ele nos leva; ndt], fiquemos certos de que é direto para ele; mas que nossa curiosidade não passe disso e não se coloque a pergunta sobre a via pela qual ele nos levará. Trata-lo-emos com mais indiscrição do que tratamos um guia ou um Cocheiro a quem deixamos que siga o caminho que quiser? Quereremos prescrever-lhe uma rota, quando não prescrevemos ao Piloto sob a conduta de quem embarcamos? O que importa o caminho que ele quer que sigamos, visto que chegaremos onde queremos? Mas, nos lamentamos de que Deus nos conduz por um caminho rude e acidentado, por um caminho coberto de pedregulhos e cheio de espinhos. Não duvidemos que este seja o mais curto e o mais seguro. E não o tenhamos por sem beleza, considerando que ele é de sua escolha, e lembrando-nos da suficiência e da bondade de um tal guia. Será que somos mais esclarecidos e mais sábios do que ele, para querermos lhe ensinar aquilo que ele deve fazer? Certamente, é um raro alívio, para nós, repousarmos sob seus cuidados e sob sua providência. O que fazem, ordinariamente, as grandes almas é se colocarem entre os braços de sua suprema sabedoria. Mas, este discurso, exigindo maior extensão do que podemos aqui, será deixado de lado, para que o retomemos em outro ponto.
NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 465-467.
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