domingo, 5 de setembro de 2010

Primeiro meio - Capítulo VI

CAPÍTULO SEXTO
Mas, se não podemos sofrer sua [da Fortuna; ndt] selvageria e violência naturais, se nos é impossível competir com ela, pelo menos não deveríamos, razoavelmente, nos lamentar disso; fazemos-lhe injustiça ao lhe imputar a causa dos problemas que nos chegam, visto ser indubitável que eles procedem puramente de nós, que ela não tem nenhum meio de nos afligir que lhe seja próprio ou, pelo menos, não tenha sido instruída nele por nós mesmos, e que ela faz a guerra com nossas próprias armas. Verdadeiramente, se queremos estar protegidos de suas ações, é preciso renunciar inteiramente a nossas esperanças e a nossos desejo; é preciso nos desfazer totalmente deles. Nós lhe arrancaremos as coisas que a favorecem  e lhe dão poder sobre nós; enfraqueceremos extremamente a sua potência ou, pelo menos, diminuiremos sua capacidade de nos prender. Quando nos dermos conta de que ela nos quer reduzir à pobreza, previnamo-nos contra esse seu desígnio, reduzindo-nos nós mesmos à pobreza; coloquemo-nos onde vemos que ela está mirando e, certamente, estaremos no lugar mais seguro possível. Um homem galante, entre os antigos, vendo um mal Arqueiro que sempre errava o alvo, alojou-se exatamente ali, onde cria ter menos motivos para temer [no original latino, Nieremberg se refere ao certo Stratonicus. Ao que tudo indica, trata-se de Estratônico de Atenas, músico famosos que viveu no século IV a.C., em Atenas, na Grécia; ndt]. A Fortuna é cega, consequentemente ela é muito desajeitada e inábil; alojemo-nos exatamente onde é o seu alvo, pois ali ela não nos atingirá; e quando suas flechas vierem a cair sobre nós e vejamos que estamos ao seu alcance, estejamos certos de que, se estivermos sem cobiça, elas não terão força, não terão pontas. Nossa moderação é quem tira a força e a ponta de suas flechas e as coloca em um estado tal que não precisamos temer, de forma alguma, que eles possam nos ferir.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 215-216.

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