segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Primeiro meio - Capítulo XVII

CAPÍTULO DÉCIMO SÉTIMO
Façamos, portanto, através de um verdadeiro movimento de virtude, aquilo que pessoas de nada, almas servis, que não têm os sentimentos de honra tais como os que temos, só fazem por maus princípios. Aquilo que a falsa paciência pôde fazer com eles, a boa, a legítima certamente fará melhor por nós. Aquilo que um Gladiador fez apenas com sua força do hábito, façamos o mesmo com a luz da razão; e aquilo que ela produziu num Estoico, esperemos o mesmo plenamente da Graça [no original latino, Nieremberg se refere a Posidônio (c. 135 a.C. – 50 a.C.), político, astrônomo, geógrafo, historiador e filósofo adepto do Estoicismo; ndt]. Não duvidemos que dela recebemos uma tão grande assistência, nem mesmo que tantos excelentes homens também a receberam, ou tão corajosos Atletas a quem ela se comunica tão abundantemente. Nossa miséria é a matéria mais comum onde ela encontra prazer em se derramar; onde ela faz suas mais abundantes efusões; que foi, se pode dizer, seu objeto de estudo, aquilo no que ela mais se exercitou; e que, por frequentes tentativas dela, ela chegou à perfeição, ela produziu, finalmente, sua obra-prima. Para vocês, tratar-se-á do fato de ela nos arrancar nossos males ou de ela nos ter dado força para suportá-los? Foi dessa segunda maneira. De outra forma, que honra, que vantagem teria ela de empregar sua potência contra nossa enfermidade? Experimentar sua força contra nossa fraqueza? Ela age em nosso espírito, da mesma forma que agiria em um sujeito livre e, consequentemente, mais nobre e mais digno da excelência de suas funções; ela o assegura contra os esforços e as falhas da má sorte; ela o fortifica contra as dores e, sem dúvida, obtém muito mais glória agindo sobre ele do que contra ela. 

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 237-238.

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