terça-feira, 7 de setembro de 2010

Primeiro meio - Capítulo VIII

CAPÍTULO OITAVO
Além do mais, não entendemos apenas pela Paciência, esta excelente virtude que nos concede a vantagem de não sermos nunca vencidos pelos males, a nunca sucumbirmos à dor, mas também ela nos ensina a sofrer constantemente a má sorte. Escutamos também aquela que nos ensina de que maneira se deve suportar a boa sorte; e acreditamos que esta é a mais frequentemente difícil de se praticar. Aquela é puramente passiva e esta consiste toda em ação; como não é nosso objetivo tratar sobre isso, nós a reservaremos para outro momento. Ela se divide em vários empregos, e este caula se divide em vários ramos. Um grande Doutor da Igreja [no original latino, Nieremberg anota: "Aliis distribuitur modis patientia: a divino Ephrem trifariam: aliam dixit patientiam erga Deum; aliam erga Daemonem; aliam erga homines". Trata-se, portanto, de Santo Efrém (306-373) que foi teólogo, monge, poeta e é considerado Doutor da Igreja; ndt] lhe dá três principais usos, um para Deus, outro para os homens e um terceiro para o seu inimigo comum. Poderíamos acrescentar um novo, muito mais difícil, como também mais importante que os outros e que tem por objeto cada um de nós em particular, e que pode ser reduzido ao exercício desses dois princípios: agir para outros e agir para nós. Esta que nos diz respeito é mais nobre e mais excelente, já que sabemos que há mais dificuldade em carregar o que está sobre nós do que o que simplesmente sustentar o qeu está perto de nós. É muito mais fácil para os animais de carga puxar um fardo do que carregá-lo; e para um só homem que ordinariamente os sobrecarrega, eles [os animais de carga; ndt] puxariam uma família inteira. A Paciência é a base e o fundamento da tranquilidade do espírito; é o título soberano de nossa paz e de nossa alegria. Eu vos pergunto, do que nos serve estar de mal com os outros, mantendo, como fazemos, uma guerra contínua conosco? Dediquemo-nos, primeiramente, a acalmar as tempestades que a cobiça levantou em nosso coração; tenhamos cuidado em estabelecer nele um firme repouso, e não teremos nenhuma dificuldade em sofrer tudo aquilo que nos vier de bem ou de mal, ser-nos-á muito fácil suportar a nós mesmos.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 219-220.

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