segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Quinto prelúdio - Capítulo IV

CAPÍTULO QUARTO
Entretanto, se é verdade que as coisas são tão pequenas em comparação com a Vontade, como não há mais lugar para dúvidas, se é verdade que seja qual for o esforço que elas possam fazer, lhes é impossível chegar sequer ao tamanho da Vontade, como elas podem se ajustar e se unir à ela para produzir nossa alegria? Este inconveniente se encontra justamente reparado pela nossa vontade mesma: como ela pode se estender até ao infinito, ela pode se apertar também num espaço bem pequeno; ela é feita com esse maravilhoso artifício – grande como é, ela se abaixa e se encurta, ela se faz tão pequena quanto os menores temas aos quais ela se acomoda. Não seria possível tornar iguais duas coisas de diferentes tamanhos, a não ser diminuindo uma ou ajustando a outra. As coisas do mundo são tão frágeis, elas têm tão pouca consistência, tão pouco corpo, elas são tão pouco capazes de crescer e se estender que, por menor que fosse o esforço feito por elas para isso, elas se destruiriam, elas cairiam no nada. E, além do mais, por menos que as ajustemos e consigamos aumentá-las, elas não suportariam, elas se encontrariam sobrecarregadas. Como, portanto, se pode fazer esse ajustamento e essa união, que deve compor a nossa felicidade? É para isso que a Vontade, felizmente, é chamada, é onde ela tem algum poder por sua capacidade. Ela é feita de uma matéria flexível e obediente; ela se alonga e se encurta segundo a ocorrência e a necessidade; e por uma espécie de compaixão que ela tem pela pequenez das coisas, que não a podem preencher, que não conseguiriam se ocupar de sua capacidade, ela se restringe e se recolhe toda em si mesma, ela se faz de seu tamanho para que elas lhe possam bastar e é o suficiente para produzir nossa felicidade. Eis, certamente, o maior e mais nobre efeito de sua liberdade, de poder se abaixar até às coisas, já que lhes é impossível se erguer até à ela.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 123-124.

Nenhum comentário:

Postar um comentário