segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Quinto prelúdio - Capítulo I

A ARTE
DE CONDUZIR
A VONTADE

LIVRO PRIMEIRO
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QUINTO PRELÚDIO
NO que consiste a alegria

CAPÍTULO PRIMEIRO
Estabelecemos suficientemente o que havíamos desejado verificar, ou seja, que está absolutamente em nosso poder nos tornarmos felizes. Não é mais possível haver dúvidas a esse respeito, isto é, que cada um de nós é o Autor e o operário de sua felicidade. Importa, antes de começar a trabalhar para nos instruirmos nos meios de adquiri-la, que saibamos no que consiste a alegria. É preciso aprender onde ela se encontra. A alegria é um certo silêncio do apetite, para quem a plena a satisfação de possuir o bem que ele desejou ardentemente não deixa espaço para pedir mais nada, permanecendo fechado como a boca para todas as demais coisas. É uma moderação, uma modéstia da ambição, que prescreveu para si mesma um confim e se encerrou dentro de limites. É uma prisão da cobiça, que não tem mais o poder de se elevar contra a autoridade soberana da Razão. É uma saciedade do coração sem nenhum desgosto; uma conquista, uma presa da Vontade; o ajustamento do espírito com as coisas; a união e, por assim dizer, o casamento do amor com seu objeto; um feliz reencontro daquilo que se procurava, a presença daquilo que se ama; a realização da esperança; o efeito do desejo; a posse do bem e, para tudo dizer em uma só palavra, um certo Basta. Não pensemos, com isso, que a alegria reside inteiramente nas coisas que estão fora de nós; apenas a metade dela está nas coisas; ela só toca as coisas levemente, com a ponta de um pé, por assim dizer. Ela só pode ser encontrada graças ao consentimento e ao acordo da Vontade, graças ao relacionamento e à correspondência que as coisas têm com a alegria, graças ao fato de ela ser contente e satisfeita. Esse é o soberano efeito da alegria: a perfeição e a satisfação. Ela consiste toda na plenitude da Vontade, que não seria satisfeita se restasse algo ainda vazio, se ela não tivesse aquilo que ela pode conter, se ela não obtivesse o que pode desejar. Certamente que não são as coisas: elas são incapazes de ocupar toda a extensão [da Vontade; ndt], pois ela é tão grande e tão vasta que apenas Deus pode preenchê-la. Tudo aquilo que pudermos imaginar de maior e de mais eminente depois dEle, é muito pequeno para isso, é, sem dúvida, de uma baixeza e de uma desproporção extremas.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 118-120.

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