terça-feira, 5 de outubro de 2010

Primeiro meio - Capítulo XXX

CAPÍTULO TRIGÉSIMO
A Paciência é, para a virtude, o que os Guardas são perto dos Reis: ela serve igualmente à sua grandeza e à sua segurança, ela a mantém sob proteção e lhe dá reverência. Ela vela incessantemente perto da Paciência, a fim de impedir que os males a ataquem; ela é o asilo comum dos miseráveis e, para dizer em uma palavra, ela é o Deus tutelar do espírito. Um antigo a chamou, com muita razão, a muralha inexpugnável da condição humana [no texto latino, Nieremberg anota: “Merito illam Halitgarius dixit custodem conditionis nostrae”. Trata-se do Bispo francês Halitgar, que comandou a diocese de Cambrai entre 817 e 831; ndt]. Não seria preciso que a Virtude fosse maior do que é para ter como sua guarda a Rainha de todas as coisas? Ela não somente é o caráter da Sabedoria, como também da piedade; ela é o nobre e vitorioso estandarte da milícia Cristã. Certamente não apenas os impacientes a reverenciam, mas também aqueles a quem a cólera possuiu e que foram transidos de fúria. Um famoso soldado de JESUS CRISTO, encontrando-se numa cidade do novo mundo, perseguido pelos infiéis e todo coberto de feridas, conseguiu uma maior e mais inesperada vitória do que aquelas que elevaram tão alto os nomes de Alexandre e de César, e aquilo que a torna ainda mais maravilhosa é saber que ele só se valeu, como arma, da Paciência [no texto latino aparece: "Abraames caesus, obrutusque ab infidelibus, integro oppido, non tantum restitit, sed felicius Alexandro, ocyus Caesare vicit. Machina, patientia fuit: tormentum inde iaculatum, veneratio sui, admiratio". Parece se tratar de Santo Abraames, que foi bispo de Carres. Segundo Butler (1866), era venerado pela sua mansidão e pela sua paciência, tendo superado a perseguição dos pagãos de uma aldeia do Monte Líbano. Não se sabe a data de seu nascimento, mas faleceu em Constantinopla, no ano 422; ndt]. Ele se cobriu apenas com essa muralha e só opôs ao inimigo essa única máquina com a qual, tendo-os estupefeito, eles não foram capazes de reconhecer dignamente o bastante a sua Virtude se ele não tivesse se elevado muito acima deles através do poder absoluto de sua ordem. Eles colocaram, portanto, entre suas mãos a inteira direção de seu Estado, julgando que, assim, honravam mais adequadamente uma tão alta magnanimidade; eles creram que uma Virtude Soberana como a dele merecia uma autoridade soberana, era digna de uma Coroa.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 269-270.

Referência:
BUTLER, Rev. Alban. The lives of the Fathers Martyrs and other principal saints compiled from Original Monuments & Authentic Records (Vol. II). Dublin: James Duffy, 1866 (p. 137).

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