quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Terceiro meio - Capítulo V

CAPÍTULO QUINTO
Com efeito, o que é a preguiça senão a morte de um homem que sobrevive a si mesmo; do que um sono vígil, parecido com o de certos animais que dormem com os olhos abertos? Na verdade, a preguiça é não viver, é não cuidar para bem viver. Este pensamento de um Sábio do Paganismo foi bastante razoável: um só dia da vida de um homem hábil vale mais do que toda a vida de um ignorante [no original latino, Nieremberg nomeia esse sábio como sendo Posidônio de Apameia (c. 135 a.C. – c. 50 a.C.), que foi político, astrônomo, geógrafo, historiador e filósofo grego, seguidor da escola Estoica; ndt]. E nós diríamos, além disso, que um momento bem empregado é preferível à longa duração, não apenas dos pecados, mas também da ociosidade e da inutilidade. O tempo é algo sagrado; ele tem sua origem  nos Céus; ele é produzido por seus movimentos; ele vem do lugar onde a eternidade reside; é preciso restabelecer ali e buscar nele a eternidade. Ele parece, nisso, com a potência suprema da qual ele depende; que o conheçamos ou que não o conheçamos e, sem dúvida, quando ele está presente, é exatamente então que ele é mais invisível. Consideremos aonde nos leva a infelicidade de o desprezar e de não utilizá-lo como é preciso. O primeiro, nos torna culpados de sacrilégio. O outro, faz de nós homicidas de nós mesmos, visto que é indubitável que viver mal é, de alguma maneira, se matar. Assim, podemos muito bem dizer que um homem ocioso é, ao mesmo tempo, vivo e morto; que uma vida estéril e que nada comunica é uma morte mesma na vida. Mas, ainda mais, é uma morte ainda mais malvada, na medida em que se compadecendo com a vida ela não nos faz perder o sentimento. A [morte; ndt] natural tem isso de bom: ela nos deixa incapazes de sofrer. Pelo contrário, aquela que nasce da preguiça nos faz, não apenas sentir os males, mas ela é tão maligna que elas os produz; da mesma maneira que um terreno ruim produz cardos e espinhos.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 301-302.

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