quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Primeiro meio - Capítulo XXXII

CAPÍTULO TRIGÉSIMO SEGUNDO
Mas, isso é elogiar apenas pela metade, é ser-lhe injusto e cortar pela metade a glória que merece, quando nos contentamos em dizer que ela ultrapassa ou ganha de seus inimigos, visto que ela não somente faz um e outro, como também, por uma vantagem muito maior, ela ultrapassa e ganha dos males mesmos. Ela é muito poderosa sobre os homens; mas ela é ainda mais poderosa sobre a Fortuna; ela tem um Império seguro sobre a Fortuna de forma tal que ela consegue fazê-la abraçar o partido de sua inimiga, constrangendo-a a servir à Virtude. Seus títulos são magníficos e brilhantes, mas não são menos legítimos, pois são fundados sobre os bens e sobre as vantagens infinitas que a Virtude recebe de seu socorro. Um grande Santo quis que esta Verdade fosse representada por esta árvore fabulosa que, tanto mais é cortada, tanto mais cresce [no texto latino, Nieremberg se refere a São Máximo (580-662), teólogo e místico católico que deixou muitos escritos; ndt]; que combate contra o ferro e, para dizê-lo com o Poeta, conserva sua vida mesmo na morte [no texto latino, o autor se refere apenas ao poeta – “ut Poetarum verba usurpemus” – e cita, em seguida, um longo trecho em grego. Porém, é evidente que a citação do grego está incorreta. Não bastassem as dificuldades de transcrevê-la devido à pouca legibilidade do texto, foi impossível encontrar referência segura sobre o autor da citação. Procuramos, inclusive, referência ao poeta a partir da tradução para o latim que se encontra anotada à margem do texto, no entanto nada encontramos; ndt]. Assim, a Virtude, fortificada pela Paciência, aumenta seu vigor e sua coragem na má sorte. Aquilo que se pode fazer para abatê-la só serve, realmente, para elevá-la ainda mais alto; ela é ornada com suas próprias infelicidades; as penas que se suscitam nela servem apenas de decoração que se acrescenta à sua beleza natural. Será preciso fazer uma imagem mais ingênua que essa? Como a Hidra das fábulas que parece ter tanto mais fonte de vida quanto mais feridas tem, assim também ela [a virtude; ndt] recebe de seu sangue a ajuda e o crescimento, como as plantas os recebem do orvalho; aquilo que parece ser capaz de destruir e de fazer se perder a virtude, pelo contrário a conserva e a mantém. Ela cresce através daquilo que se pensa ser a causa de sua ruína.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 273-274.

Nenhum comentário:

Postar um comentário