quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Terceiro meio - Capítulo VI

CAPÍTULO SEXTO
Desejamos muito que nossos campos e nossas vinhas deem bons frutos; e somos, sem dúvida, muito cuidadosos na colheita daquilo que eles nos dão. Mas, que infelicidade é essa a nossa que nos faz sermos negligentes com o fruto que podemos colher de nós mesmos? Que infelicidade é essa que nos faz não querermos nos impor pela melhor colheita que podemos fazer? Que infelicidade é essa que nos faz estimar tanto os bens estrangeiros e tão pouco aqueles que vêm de nós mesmos? O homem é um terreno tanto mais fértil e feliz quanto mais é cultivado pelas próprias mãos de Deus. Seus frutos são suas boas obras; que ele saiba, portanto, usar de si mesmo, visto que não há nada de que ele possa tirar mais vantagem do que disso; que ele se sirva disso e que ele se aproveite disso, da mesma forma que ele faz coisas para si mesmo. Como nossos terrenos não produzem por si mesmos, eles só produzem o que podem e, muito frequentemente, menos do que podem. Se o pecado do homem não tiver colocado limites à fertilidade da terra, se ela estiver livre na suas produções, certamente que, ao invés de só responder raramente às nossas expectativas e praticamente sempre ter efeitos menores do que suas promessas, ela ultrapassará em muito nossas esperanças e desejos. Com isso, ela depende da constituição e dos caprichos do exterior, e só produz aquilo que agrada a esta potência Superior. Somos tão felizes que nossa fertilidade não é em nada limitada, nem depende de outros. Produzimos apenas para nós e ainda com a vantagem de produzir o quanto quisermos. Portanto, não deixemos na inutilidade a melhor e a mais nobre de nossas posses; não diminuam em nada, por nossa preguiça, o maior e o mais seguro de nossos rendimentos; o mais precioso de todos os nossos bens; aquele apenas através do qual podemos estar certos de ter e nos persuadirmos de ser ricos; em uma palavra, aquele cuja excelência é tal que, nos causando extrema satisfação, e nos levando a um proveito maravilhoso, não dá menor prazer a outros.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 302-303.

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