CAPÍTULO SÉTIMO
Portanto, para não cair sob o jugo e a tirania do remorso, evitemos, quando estiverem nascendo, os maus desejos e os afetos desordenados. Resistamos corajosamente a tudo aquilo que nos aconselha o mal. Ninguém, certamente, que lhe tenha dado crédito se saiu bem. Todos os nossos defeitos, todos os nossos desprazeres, procedem em absoluto do defeito de nossa paciência, porque, não querendo sofrer, recusamos fazer o que há de mais excelente na Virtude. Falhamos no maior e no mais necessário dever que ela nos impõe. Quando agimos no pecado, esses dois males se apresentam para nós: o de cometê-lo ou o de sofrer algo para nos defendermos de cometê-lo. Ora, nossa miséria é tal que, para nos garantir contra este, que é muito fácil de suportar, nós nos precipitamos no outro, que é tão extremado; e caímos nele com muito pouco escrúpulo, dada a natural complacência que temos com nossos sentidos, cujas formas de persuasão são muito poderosas a ponto de falar mais alto que a razão. Ela quer soframos um pequeno mal para que evitemos o pecado que, sem dúvida, é o maior de todos os males. Pelo contrário, eles querem que nos abandonemos ao pecado muito mais do que admitamos a menor pena; eles deixam a alma perecer cruelmente, mais do que consentem o mais leve sofrimento ao corpo. O remédio infalível para esses dois males é sofrer o último e resistir ao primeiro. E se não sofremos algo para não pecar em nada, sofreremos um tormento extremo por ter pecado. Quem não escolheria muito mais um curto sofrimento em lugar de um longo incômodo como é o que nos causa o remorso? Verdadeiramente, visto que não sabemos evitar sofrer – seja antes da falta, para que não a cometamos, seja após a falta, por tê-la cometido –, seremos não apenas muito ignorantes e cegos, como também nossos próprios inimigos quando perdermos a vantagem que temos nessa escolha e se, nos encontrando entre dois males, falhemos quanto à máxima que nos diz que devemos eleger o menor; através disso, nos eximimos do rigor dos dois grandes suplícios; nos subtraímos ao furor dos dois Tiranos desumanos – a pena que nos causa o remorso e aquela que nos impõe a penitência do crime. Assim, este sofrimento praticado antes dos males nos servirá como excelente antídoto contra os males mesmos; e, por um mal abreviado, evitaremos o mal inteiro. Mas, somos de tal forma inimigos de nosso próprio bem que rejeitamos aquilo que nos preserva como se fosse um veneno; e não temos menos desconfiança e horror daquilo que nos concede saúde do que daquilo que nos arranca a saúde e nos faz perder a vida.
NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 287-289.
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