quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Segundo meio - Capítulo V

CAPÍTULO QUINTO
Assim, podemos dizer que se trata de injustiça contra a Natureza acreditar que ela seja a única culpada de nossas infelicidades e de nossos problemas. Nós armamos contra nós mesmos nossa própria malignidade; nós lhe colocamos nas mãos o ferro com o qual ela nos mata. Nossas más ações nos fazem sofrer muito mais, sem dúvida, do que nossa má sorte; e nossos sofrimentos procedem bem menos do mal que nos chega por acaso do que daquele que fazemos por eleição. Ora, o maior dos males é sofrer por nossa própria ação. Qual é a miséria daquele que se encontra nesse estado deplorável? Ele nunca tem contentamento sólido ou, se podemos dizer, ele não tem contentamento algum; suas satisfações são todas falsas; e quando parece que ele se encontra na alegria e nas delícias, ele está é atormentado. Não há nada de mais justo para acusar a Fortuna do que o fato de, nos fazendo o bem, nos leva a fazer o mal, nos aplaudindo e nos bajulando, ela nos suscita as ocasiões e nos facilita os meios para fazer o mal. Para essa infelicidade, sem dúvida a maior de todas ou, para melhor dizer, a única verdadeira infelicidade, a Paciência tem remédio; mas de uma maneira extraordinária e por um nobre esforço que ela faz sobre si mesma, imprimindo o vigor e a atividade de sua inimiga, a cólera; e passando então sob a aparência de impaciência, que é seu sobrenome, da mesma forma que os vitoriosos, antes, se diziam vencidos.

NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 283-284.

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