CAPÍTULO VIII
Portanto, é preciso voltar a esse ponto: que o perigo é muito grande para nós quando somos indulgentes com nossas paixões; que não poderíamos encontrar segurança alguma quando nos servimos de umas para nos livrarmos de outras; que somente a Virtude estabelece a paz de espírito e não somente lhe confere a vantagem de gozar sempre de uma perfeita tranquilidade como também a vantagem de ser sempre o mesmo, firme e invencível em todos os acidentes da vida. Cícero [no original latino, Nieremberg não cita Cícero; ndt] nos ensinou que, em seu tempo, se podia ver que alguns Celtiberos [povo que resultou da fusão entre as culturas celta e ibérica; ndt] e alguns povos Setentrionais suportavam com uma maravilhosa coragem os incômodos da guerra; mas também que eles sofriam com muita impaciência os males e testemunhavam uma grande fragilidade na dor. Pelo contrário, os Orientais, particularmente os Gregos, faziam parecer uma perfeita constância nas aflições; mas, quanto ao resto, sua fragilidade era tal que eles sucumbiam ao menor sofrimento e suportavam muito mal a vista do inimigo. Isso não seria o suficiente para justificar que o espírito só consegue ter firmeza quando ela vem da Virtude? Que, sem ela, ele não conhecerá repouso sólido e não terá nenhum fundamento seguro? É através dela que ele tem o dom de sempre estar de acordo consigo mesmo; ela produz nele uma tão doce harmonia que nem mesmo a mais excelente música poderia reproduzir. E como um concerto se compõe de muitas vozes que têm uma justa proporção entre si, que se misturam e se confundem agradavelmente umas com as outras, também se forma em nosso espírito uma perfeita correspondência de todas as Virtudes juntas, uma divina melodia que o enche de alegria e lhe dá um prelúdio daquela que lhe está preparada no Céu.
NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 333-334.
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