CAPÍTULO DÉCIMO SEGUNDO
Que pesado fardo é o Sábio que contempla e não age! Certamente, o homem tem muitos motivos para se gloriar dos privilégios de sua condição; tem muitos motivos para se vangloriar do Império absoluto que exerce sobre todas as coisas da Natureza; se ele não sofre, ele não passa de uma obra inútil. Se aquele para quem tudo foi feito permanece ocioso e sem nada para fazer, ele perde seu lugar, ele se coloca abaixo de tudo aquilo que há de mais vil. Que ele não se orgulhe demais da falsa persuasão de que ele serve de ornamento para o Universo. Além de ele não ser feito de uma matéria muito preciosa para isso, nem ter sido feito por uma fábrica muito excelente, o Céu e os Astros têm essa vantagem sobre ele. Eles cumprem, sem dúvida, suficientemente bem suas funções ao se fazerem ver; e, para eles, não é ócio serem grandes e os mais nobres espetáculos do mundo. Quando o Sol cessar de realizar seu percurso ordinário e se tornar imóvel; quando esse divino Ecônomo da Natureza perder sua força e atividade, com as quais ele faz tão diversas e maravilhosas operações; não pensemos, no entanto, que ele se aposentou; ainda lhe restará emprego suficiente na função de clarear o mundo e adornar o Céu, e ele nunca será inútil na medida em que for sempre belo. O mesmo não se pode dizer do homem: se ele não age, nada haverá que seja capaz de reparar esse defeito; e por mais impressionante que seja sua condição, não há desculpa alguma para a sua covardia. Não seria suficiente repetir, mas é preciso dizer que aquele a quem todas as coisas servem, não serve de nada se não servir a si mesmo, se não servir à Virtude. Não há nada de mais nobre e de mais agradável na Natureza do que o Sábio que age; ao contrário, não há nada de mais odioso do que aquele que permanece na ociosidade, que esmorece e apodrece na preguiça. Sem dúvida, o movimento da Virtude é o repouso do espírito: quem quer que seja que não age e não age virtuosamente sempre entenderá a Virtude como um problema. Eu diria ainda mais que há muito menos inconveniente em não viver e não ser do que ser ocioso e não agir na virtude. Eu vos pergunto se, nisso, não se está praticando o vício e se está voltando ao nada de onde se foi retirado. Não agir e não sofrer é cair no nada. Se acontece de encontrarmos em nosso pomar uma árvore infértil, não sofremos nada por ela e mandamos cortá-la. O mesmo em uma família bem ordenada onde cada doméstico tem sua função e sua tarefa. A ociosidade não é admitida ali dentro. Geralmente, todos trabalham, e é uma lei da qual não há nem dispensa nem exceção. As coisas de uma natureza mais excelente e que, dentro dessa família, ocupam um lugar mais elevado são, sem dúvida, aquelas que mais agem. Pode haver um exemplo maior do que o movimento contínuo dos Astros? O mais belo dos Elementos, o fogo, que habita tão próximo deles [dos Astros; ndt], como se morasse nos subúrbios do Céu, não deveria merecer, por sua atividade, a honra de ocupar um lugar tão digno? Pelo contrário, vemos como a terra ociosa e, por assim dizer, preguiçosa está localizada em um lugar mais baixo; e como o seu peso e sua imobilidade, parece, a afastaram de uma tão nobre vizinhança.
NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 312-314.
Nenhum comentário:
Postar um comentário