CAPÍTULO II
Não há motivo para espanto. Assim como não há nenhuma possibilidade de união entre eles, também não pode haver fidelidade: todos eles seguem seus próprios caminhos, têm vias separadas ou, para dizer mais acertadamente, eles correm em direção a diversos precipícios, eles não tem nem fim nem rota certa. Também é preciso dizer que a sua natureza não é andar direito. Bem como eles caminham em desordem e nas trevas, eles se agridem incessantemente e, disso, nasce sua guerra eterna. Eles não se propõem um fim igual, como fazem as Virtudes que estão sempre estreitamente ligadas umas às outras, formando um colar nobre, como se fosse de belas e ricas pérolas, e que, segundo o pensamento de um Filósofo, são tão unidas e estão tão de acordo entre si que são uma mesma e única virtude [no original latino, aparece escrito: “Ita malum malo contradicit propter inordinatum incursum, & unius finis defectum, qui tamen est foedus, fibulaque virtutum in eadem consertarum linea, ut pretiosissimi uniones, in qua unitae, aut unae sunt, aut una iuxta Apollophanem”. Trata-se de do filósofo estóico Apolófanes; no entanto, não encontramos nenhuma referência precisa acerca desse pensador; ndt]. Ao contrário, os vícios, não estando nunca bem entre si e, às vezes até, não estando nunca bem consigo mesmos, teimam e se contrariam sem cessar; e se há algo no que eles estão de acordo é apenas no ódio que cada um deles traz contra a Virtude. É por isso que aquele que não a emprega para a ruína do vício nada pode merecer dela. E se não for uma ofensa muito grande o extremo desprezo de não se servir de sua ajuda numa ocasião tão importante, pelo menos será ignorar a grandeza de suas forças e não conhecer a extensão de sua potência. Não saber que o braço de Hércules, tão fatal contra os Monstros, só pode ser uma frágil e muito imperfeita imagem se comparada à sua [da Virtude; ndt] força. Diz-se desse Herói que ele tinha muito mais de dois adversários ao mesmo tempo; mas quantos adversários juntos ela [a Virtude; ndt] é capaz de vencer? E quem poderia se comparar, quanto ao prodigioso valor, a ela?
NIEREMBERG, Jean Eusebe. L'art de conduire la volonté selon les preceptes de la Morale Ancienne & Moderne, tirez des Philosophes Payens & Chrestiens. Traduit du Latin de Jean Eusebe Nieremberg, Paraphrasé & de beaucoup enrichy par Louys Videl, de Dauphiné. Dedié à Monsieur de Lionne, Conseiller d'Estat ordinaire & Secretaire des Commandements de la Reyne Regente. Paris: Chez Jean Pocquet, 1657, pp. 323-324.
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